sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Olhos da mente

Distração. Esse era o sentimento que Inês sentia. Tinha medo de acordar para o mundo e perceber que seu tempo estava se esvaindo pelos dedos.

Sentada, tentava fixar os olhos nas luzes que passavam na sua frente tão rápido que mal conseguia distinguir suas cores. Verdes, azuis, amarelas e vermelhas, essas eram as cores que conseguie enxergar, mas sabia que tinham outras.

As luzes faziam Inês lembrar da infância. lembrava-se do Natal em família, do rompimento do ano, na praia, como era de costume.

Sua boca salivando, mas ao mesmo tempo seca. Procurava água. Esticou as mãos para o lado à procura de um copo com uma boa dose para matar-lhe a sede. Nada. Pensou em se levantar, mas seu corpo estava muito dormente.

Ia gritar para alguém lhe trazer, mas sua voz lhe faltava. O que era aquilo?
Sabia que estava sentada, mas só enxergava luzes, nada de muito concreto. Ao lado de sua cama, sempre deixava um copo com água para que a noite não precisasse levantar, mas não havia nada na mesa ao lado e tateando percebeu que não era a costumeira mesa de sua cabeceira.

Não se precipitou, tentou manter a calma e relaxar, deixou o tempo correr. Dos cinco sentidos, dois lhe intrigavam muito. O odor do lugar não era conhecido, não tinha o cheiro de sua casa, muito menos do seu quarto. Nem de hospital ou qualquer lugar que lhe fosse do conhecimento. O outro era o paladar. Tinha um gosto amargo na boca, como quem chupou um limão com casca e tudo.

O tempo parecia ter parado. A impaciência tentava tomar conta de Inês, uma mulher que sempre teve uma vida digna. Trabalhava, estudava e ainda era voluntária em casas de idosos. Vinte e três anos, pele negra, cabelos longos e encaracolados, quadril largo e desejado por todos homens que passavam por ela.

Não lembrava qual a última coisa que tinha feito, não sabia onde estava, não tinha noção do que estava acontecendo. Só sabia que não conhecia aquele lugar e que nunca tinha estado ali antes, mas estranhamente não tinha medo, mas impaciência.

Ouviu barulhos. Pareciam latas caindo no chão, se assustou. Contraiu o corpo e colocou os braços sobre a cabeça, como se quisesse se proteger. Aos poucos, foi relaxando novamente e sentiu que o corpo já respondia ao que quisesse fazer.

Levantou-se. Ao ficar em pé, sentiu o corpo cambalear, a tontura fez com que seus joelhos se dobrassem. Inês caiu no chão! A dor da queda não lhe atingiu, levantou novamente e tateando as paredes achou uma porta. Trancada.

Sua mente procurava achar explicações para aquilo que estava vivendo. A situação não era muito corriqueira, afinal a única vez que tinha ficado presa em algum lugar, foi quando a mãe a pôs de castigo por ter matado o peixe do aquário de tanta comida que deu a ele.

Enfim, sua mente trabalhava, estava decepcionada por não saber o que estava acontecendo. De repente, uma mão lhe tocou e uma voz disse:

- Inês, venha comigo.

Sem conseguir responder, Inês apenas balançou a cabeça negativamente. Não queria sair dali. Sabia que não conhecia aquele lugar, mas se sentia segura ali.

A voz então, novamente, pediu:

- Inês me acompanha, você tem que vir comigo.

Novamente Inês se recusou. Sem paciência, a voz soou-lhe novamente:

- Inês, você está bebada, é cega e está na minha casa. Sou sua amiga, vou lhe ajudar, mas você tem que vir comigo, vou lhe dar um banho!

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